O homem que matou a companheira Fernanda Garrido, de 40 anos, com um golpe de facão na nuca durante uma confraternização familiar na Pampulha, em Belo Horizonte, planejou o crime porque queria se livrar da mulher. É o que revelou a investigação realizada pela Polícia Civil, cujos detalhes foram repassados nesta quinta-feira (15 de maio). O crime foi praticado em 1º de maio.
Familiares do suspeito chegaram a imaginar que ele tivesse tido um surto esquizofrênico, visto que ele chegou a fazer acompanhamento médico no Hospital André Luiz, na capital mineira. Contudo, a versão apresentada pelos parentes dele não se confirmou, conforme informou a delegada Iara França, responsável por conduzir os trabalhos.
“Apuramos que, quando o autor tinha surtos, ele costumava ficar retraído e calado — comportamento diferente do que teve no dia do crime. O nosso núcleo de investigação descobriu que Fernanda era uma mulher cheia de vida e trabalhadora, e que abdicou da vida que tinha em Cabo Frio, sua cidade natal, para viver com o marido em Belo Horizonte”, afirmou.
A Polícia Civil descobriu que, ao longo dos dez anos de casamento, a vítima foi “tolhida de fazer tudo que gostava”. “O autor foi controlando a vida da companheira e tudo o que ela fazia. Porém, o desejo dela era resgatar o casamento — tanto que uma viagem para o exterior estava programada”, destacou a delegada.
Fernanda, conforme a delegada Iara França, entrou em depressão por conta do tratamento que recebia do companheiro. “Ela, por não ter parentes em BH, buscava ter sucesso no trabalho, tanto que atuou como gerente de lojas em shoppings da capital. Ela tentava crescer, e ele a controlava,
obrigando-a a realizar chamadas de vídeo para comprovar que estava trabalhando e não em outros lugares com amigas. Colegas de trabalho disseram que, em janeiro deste ano, ela iniciou um quadro depressivo”, contou.
A vítima passou a ser humilhada pelo parceiro após ganhar peso e continuou sendo impedida de ter vida social. “Ela sempre foi humilhada por ele e, nos últimos tempos, passou a ser menosprezada com palavras de baixo calão. O autor sempre dizia que ela ‘não prestava’, e isso acarretou na depressão.”
Crime planejado
O casal passou a viver na casa da mãe do suspeito, uma pousada localizada na orla da lagoa da Pampulha. Fernanda foi morta durante uma confraternização que, segundo a polícia, foi idealizada pelo companheiro. “Tudo foi premeditado. Durante a festa, o autor tratou bem a Fernanda, deu carinho a ela — algo que até surpreendeu os presentes, pois muitas vezes foi cogitado o divórcio, e, apesar de viverem na mesma casa, dormiam em camas separadas.” Ela foi morta em um momento de alegria. “O autor estava acostumado a ver a vítima sempre chorando, deprimida, mas, naquele dia, ela estava rindo e muito feliz com uma cunhada. Aquilo o incomodou. Ao vê-la daquela forma, ele se levantou, foi até um quarto, pegou um facão de jardinagem, foi até ela e desferiu o golpe brutal que chegou a romper a medula”, disse a delegada. O suspeito, após o golpe, “contemplou” a mulher caída e ainda a atingiu mais algumas vezes. “Ele queria se livrar da Fernanda, tanto que, após o crime, virou-se para os presentes e disse: ‘Agora vou embora’.” O suspeito foi preso em uma rodovia, a caminho do Norte de Minas Gerais, onde pretendia se esconder na fazenda da família. “Ele sabia perfeitamente o que tinha feito, tanto que estava calmo no momento da prisão e permaneceu em silêncio. Apesar da família falar de surto, não temos laudo médico que comprove. Ele praticamente decepou a cabeça da vítima. Ele segue preso e foi indiciado pelo crime de feminicídio”, completou a delegada.