Em agosto, a Capital do Minério computou saldo negativo de 99 postos de trabalho formais, o segundo pior desempenho do estado, conforme dados recém-divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. O resultado ruim vem imediatamente após um julho de apogeu, quando o município reportou um dos 25 melhores desempenhos do Brasil no quesito geração de empregos com carteira assinada.
Mas o que mudou de um mês para o outro que levou Parauapebas a tombar de forma abrupta? Qual ou quais setores derrubaram o município, em meio à geração de emprego ostentada pela grande maioria das cidades do país?
O Blog do Zé Dudu, portal de notícias da cidade, foi atrás de respostas e constatou que a crise que se abateu no mercado de trabalho de Parauapebas foi específica em uma área da indústria: a de manutenção e reparação de máquinas e equipamentos pesados. Esse setor é importante e dinâmico no município porque atende à movimentação de minério na Serra Norte de Carajás, onde a mineradora multinacional Vale mantém operações.
Em agosto, o setor de manutenção e reparação de máquinas e equipamentos pesados contratou 127 trabalhadores, mas demitiu 397, reportando sozinho saldo negativo de 270 empregos. Isso, conforme apurou o Blog, é resultado de um efeito cascata puxado pela indústria extrativa mineral, que também afundou em agosto, com saldo no vermelho de 51 trabalhadores demitidos em razão do volume de 15 contratações e 66 distratos contratuais.
O cenário só não foi pior no município porque outros setores fecharam com saldo positivo e ajudaram a amortecer a queda registrada nos nichos de manutenção de máquinas e extração de minério de ferro. O comércio parauapebense, por exemplo, encerrou agosto celebrando 148 novos postos de trabalho celetistas, enquanto o setor de serviços computou 54 trabalhadores admitidos.
Panorama do setor mineral
Depois da Prefeitura de Parauapebas, com seus 10.655 servidores, incluindo vínculos junto à administração indireta, a mineradora Vale é a maior empregadora do município, com 8.394 trabalhadores, de acordo com dados do Caged levantados pelo Blog do Zé Dudu. Juntas, prefeitura de Vale, somam hoje mais “gente no batente” que a população inteira de 3.750 cidades brasileiras (67% do total).
Mas, no caso da Vale, já houve tempos melhores. Quando Parauapebas reinava sozinho no nicho do minério de ferro de alto teor, sem a concorrência da mina em Serra Sul, dentro do município de Canaã dos Carajás, a Capital do Minério contabilizava muito mais empregados na Vale, nos tempos gloriosos de bonança da commodity que chegou a ser o principal produto de exportação do país num passado não muito distante.
O blog preparou uma série histórica, desde o “boom” do minério de ferro, em 2010 e 2011, até hoje, para mostrar a evolução do número de trabalhadores na indústria extrativa mineral operada pela Vale em Parauapebas, a partir de dados declarados pela multinacional empregadora à Relação Anual de Informações Sociais (Rais).
VÍNCULOS DE EMPREGO NA VALE POR ANO, SEGUNDO A RAIS
2024 — 8.394
2023 — 8.422
2022 — 8.404
2021 — 8.462
2020 — 8.910
2019 — 7.482
2018 — 7.238
2017 — 7.140
2016 — 11.205
2015 — 10.876
2014 — 10.515
2013 — 9.471
2012 — 9.277
2011 — 8.186
2010 — 6.702
O auge dos empregos formais na mineração local foi em 2016, com 11.205 vagas, coincidentemente quando a Vale foi forçada a produzir mais minério de ferro para suportar os preços baixos da cotação do produto no mercado internacional. A queda de preço da tonelada do minério afetou fortemente o setor e aniquilou empresas mineradoras mundo afora.
Com a crise instalada na Serra Norte de Carajás, a multinacional foi obrigada a demitir milhares de trabalhadores, sobretudo os mais antigos e com salários mais altos, reduzindo seu efetivo a 7.140 em 2017, mas aos poucos revitalizou a força de trabalho até atingir 8.910 postos preenchidos em 2020, ano da pandemia de coronavírus e um dos mais rentáveis da história da empresa juntamente com 2021, quando o preço do minério experimentou um novo “boom” e atingiu valores descomunais.
Desde então, o número de trabalhadores na Capital do Minério encontra-se estável, enquanto em Canaã dos Carajás — que rivaliza com Parauapebas pelo título de maior produtor mineral do Brasil — atingiu o ápice, com 5.232 empregados da Vale nas operações de ferro e cobre.
Fonte: zedudu.com.br