Com metade dos servidores, Polícia Civil de MG tem trabalho afetado: ‘nem 10% dos casos apurados’

Desvendar crimes. Uma missão cada vez mais desafiadora para a Polícia Civil de Minas Gerais. Com o déficit de servidores, hoje, em cerca de 50%, conforme levantamento do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil no Estado de Minas Gerais (Sindpol-MG), a instituição se desdobra e convive com a sobrecarga de trabalho para conseguir checar informações, realizar diligências, ouvir testemunhas, entre outras atividades.

Um comprometimento que é consequência da defasagem de 50% na quantidade de escrivães, 45% de investigadores, 42% de delegados e de 35% de peritos, como aponta o delegado-geral Antônio Carlos de Alvarenga, que atua na Divisão de Polícia Interestadual (Polinter). Um problema que se soma a falta de infraestrutura e de equipamentos nas delegacias. A situação precária é parte da rotina de um investigador, que por medo de retaliações, pediu à reportagem para não ser identificado.

“Eu já tirei muito dinheiro do meu bolso para conseguir fazer alguma investigação, na maioria das delegacias, não há nada. Nem 10% dos casos são apurados. Por isso, a criminalidade continua, não há intimidação dos criminosos”, narra. Essa mesma condição é compartilhada por um escrivão, profissional responsável por registrar, documentar e redigir declarações, inquéritos, processos e depoimentos. “O que posso dizer é que é exaustivo, muito trabalho para poucas pessoas. Há delegacia onde há apenas um escrivão, em outras, não há nenhum”, detalha.

“No plantão, ao fim do turno, um policial sozinho precisa levar uma média de cinco ou seis presos sozinho até o sistema prisional. Se ocorrer um acidente, um motim, ou qualquer outra coisa, ele está sozinho”, narra o investigador.

Além dos riscos diante da falta de profissionais, o déficit compromete o andamento das investigações. “Temos mais de mil inquéritos, além dos termos circunstanciados de ocorrência (TCOs). Chega a ter quase três mil procedimentos para darmos conta, pois tudo passa por nós. Temos que olhar o prazo e dar andamento em tudo”, detalha o escrivão, que afirma que na unidade onde  atua, existem apenas dois profissionais dessa área.

Para o especialista em segurança Luiz Flávio Sapori, que atuou como secretário adjunto de Segurança Pública do Estado de Minas Gerais no período de janeiro de 2003 a junho de 2007, o déficit de profissionais é um problema antigo e que afeta a instituição há cerca de 20 anos. “A curto prazo, não tem como o Estado de Minas Gerais suprir esse déficit. Se considerarmos a limitação financeira, não tem como contratar mais”, avalia.

Ele acredita que, apesar da sobrecarga de trabalho, o adoecimento dos servidores é um fenômeno que vai além dos problemas de infraestrutura da instituição. “É um fenômeno mundial e que precisa ser estudado. Está muito mais relacionado a pressão e as frustrações, o que pode gerar a depressão, por exemplo”, justifica.

Sapori sugere que diante deste desafio, de dar continuidade às investigações sem ocasionar uma sobrecarga de trabalho, é preciso repensar estratégias a fim de otimizar o trabalho dos agentes. “Investir em tecnologia é uma alternativa, além de ser necessário repensar o quadro de funcionários, fazer uma melhor distribuição dos recursos disponíveis”, indica. Ainda segundo o especialista, esse déficit não é um problema exclusivo da polícia de Minas. É um fenômeno nacional e que compromete todo o ciclo investigativo. “A capacidade de apuração desses crimes fica restringida”, completa.

Sem respostas

A reportagem questionou ao Governo de Minas sobre a falta de servidores e de equipamentos na Polícia Civil de Minas Gerais. Até o fechamento, a reposta não foi enviada.

 

Reportagem: Jornal O Tempo.

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