
É irresponsável, injusto e perigoso culpar a esposa do suspeito de assassinar o gari por um crime que ela não cometeu.
A responsabilidade pela brutalidade recai única e exclusivamente sobre o autor — um homem descontrolado, machista e violento.
A delegada, como muitas mulheres, confiou em seu companheiro. Confiou em quem dizia amar, dividiu sonhos e construiu uma vida ao lado de quem, no fim, mostrou-se alguém sem caráter. Como poderia ela imaginar que aquele homem seria capaz de tamanha atrocidade?
Muito se fala sobre uma arma registrada em nome dela. No entanto, essa tragédia não pode ser reduzida a um detalhe técnico. O fato de a arma estar em seu nome não a torna cúmplice — ela também foi enganada, teve sua confiança traída e seus sentimentos manipulados. Ela é, portanto, mais uma vítima.
Vítima de um relacionamento baseado em mentiras, aparências e falsas credenciais.
É preciso parar de revitimizar mulheres.
A sociedade precisa refletir sobre o quanto ainda pune e responsabiliza mulheres pelos atos de homens violentos. Isso é, sim, mais uma forma de violência.
Vale lembrar que, se ele não tivesse usado a arma, poderia ter usado qualquer outro meio — um veículo, uma faca, as próprias mãos.
O foco deve estar no agressor, não em buscar culpados secundários para satisfazer a ânsia de julgamento público.
A delegada tem uma carreira construída com mérito, estudo e dedicação. Nada, até o presente momento, macula sua imagem profissional.
Quem a tenta descredibilizar por causa das ações de outro revela, na verdade, preconceito e oportunismo.
Trata-se de um caso que expõe não só a violência de um homem, mas também a forma como a sociedade insiste em silenciar, julgar e punir mulheres que confiaram — e foram traídas — por homens que jamais mereceram essa confiança.
Autor Cosme Ferreira










