Investidores temiam uma desaceleração da demanda e uma sobreoferta em potencial, explica o analista Ruy Hungria, da Empiricus Research. Essas projeções tinham como base a desaceleração da economia chinesa e a entrada em operação da gigantesca mina de Simandou, na Guiné, respectivamente.
O receio de redução da demanda, entretanto, não se concretizou, com a indústria siderúrgica chinesa produzindo a níveis acima do esperado e o minério ainda atrativo como investimento.
Na realidade, o que Hungria destaca são outros fatores que reverteram as expectativas para a oferta:
Eventos climáticos extremos, como ciclones na costa da Austrália ou chuvas que interromperam a circulação nas ferrovias da Vale no Brasil;
A disponibilidade de sucata, abaixo das previsões, devido a um ciclo de vida mais longo dos produtos;
Aumento de complexidade e custo das minas, com extração em áreas cada vez mais profundas.
Outro ponto de análise relevante é a taxa de exaustão das minas em atividade, que indica a velocidade com que as reservas de uma mina estão sendo consumidas pela produção. Com um consumo elevado e uma demanda relativamente estável, estudos da mineradora anglo-australiana Rio Tinto apontam para um déficit anual de 650 Megatoneladas (Mt) em 2035.
Ou seja, nada de sobreoferta, fator que poderia resultar em queda do preço do minério de ferro.
Por isso, Hungria reforça que o cenário é desanimador para os “shorts” em minério —isto é, para quem “torce contra” a commodity. Na realidade, os ventos parecem estar soprando para um aumento de preço deste ativo.
“Se as projeções da Rio Tinto estiverem corretas, a virada da década pode começar a mostrar uma mudança estrutural no balanço entre oferta e demanda, e os preços do minério já parecem começar a precificar isso”, avalia Hungria.
Mesmo em um cenário de descrença em relação ao minério de ferro, a Vale distribuiu US$ 3,4 bilhões aos acionistas em 2025. A informação foi divulgada pelo presidente da mineradora, Gustavo Pimenta, durante o Vale Day, realizado em dezembro. Considerando o valor de mercado da companhia, esse montante representa um dividend yield de aproximadamente 6% no ano.
Para 2026, a projeção de Hungria é de que a Vale acompanhe a valorização do minério, o que deve resultar em dividendos ainda mais robustos. As estimativas da Bloomberg indicam, atualmente, um dividend yield em torno de 7,5% para o próximo ano.
Em 2025, as ações VALE3 valorizaram +30%. A perspectiva positiva para alta do minério do ferro deverá deixar a companhia ainda mais confortável para suas tradicionais distribuições “generosas” de proventos.
Fonte: Camila Paim / Money Times










