Pesquisadores ligados ao Plano de Ação Territorial para Conservação de Espécies Ameaçadas do Espinhaço Mineiro (PAT Espinhaço Mineiro) anunciaram a descoberta de um novo gênero de planta na região de Monte Azul, no Norte de Minas. O novo gênero, denominado Roquea, pertence à família Asteraceae, a mesma do girassol, da dália e da margarida.
O achado ocorreu em dezembro de 2024 e foi publicado na revista internacional Phytotaxa, destacando a rica biodiversidade da região Norte da cordilheira do Espinhaço, área pouco explorada e alvo de pesquisas do PAT Espinhaço desde 2022.
A descoberta foi realizada com o apoio do Instituto Estadual de Florestas (IEF), por meio do PAT Espinhaço Mineiro e do projeto Pró-Espécies, que viabilizaram expedições à Serra da Formosa, no município de Monte Azul.
O pesquisador Benoit Loeuille, do Jardim Botânico Real de Kew, no Reino Unido, um dos autores da descobert, explica que oquea apresenta características morfológicas diferenciais fascinantes, que permitem que os indivíduos do gênero se desenvolvam em ambientes adversos, como solos rasos, altas temperaturas, intensa insolação e escassez de água.
Nomenclatura e preservação
Gênero é uma categoria taxonômica hierarquicamente superior à espécie, que agrupa espécies com características em comum – o gênero Homo, por exemplo, agrupa diversas espécies, como Homo sapiens e Homo erectus. A espécie coletada foi denominada de Roquea multiserialis e é a primeira representante do novo gênero.
De acordo com o botânico Roberto Baptista, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), a descoberta foi fruto de anos de trabalho e contou com a colaboração de outros especialistas.
“Em 2018, o pesquisador Gustavo Martinelli identificou indícios de uma planta incomum na região. Após uma primeira tentativa sem sucesso em 2022, conseguimos encontrar e coletar a espécie no pico da Serra da Formosa no ano seguinte, confirmando que não se tratava apenas de uma nova espécie, mas de um gênero totalmente inédito”, explica Baptista.
O nome Roquea foi atribuído em homenagem à Dra. Nadia Roque, professora e pesquisadora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), falecida em outubro de 2024, em reconhecimento à notável contribuição da pesquisadora para o estudo da família Asteraceae.
Apesar da importância da descoberta, a Roquea multiserialis já nasce classificada como criticamente ameaçada de extinção, sendo conhecida por apenas quatro registros no pico da Serra da Formosa.
O professor Guilherme Antar, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), também autor da pesquisa, alerta sobre os riscos à preservação da espécie: “A espécie tem uma distribuição muito limitada na natureza, provavelmente restrita a esta única montanha”, diz.
A equipe do Parque Estadual Caminho dos Gerais também colaborou no trabalho de campo, reforçando o compromisso com a preservação do ecossistema local.
Os resultados da descoberta integrarão um livro ilustrado sobre a flora de Monte Azul, região que vem ganhando destaque pelas recentes descobertas de novas espécies, como a “Uaizeitona” (Chionanthus monteazulensis), e as canelas-de-ema, Vellozia flavida e Vellozia formosa, contribuindo para valorizar e preservar o patrimônio natural do Norte de Minas Gerais.
Fonte: Agência Minas