As farpas entre a Câmara Municipal e o prefeito Marco Antônio Lage (PSB) seguem agitando o cenário político de Itabira. O presidente do Legislativo, vereador Heraldo Noronha (Republicanos), tem travado a votação do projeto que destina R$ 1 milhão de dinheiro público para um clube de futebol. O parlamentar alega que outras instituições também deveriam receber doações da prefeitura, como o asilo e a Apae, e não apenas a agremiação esportiva.
Durante um discurso na noite desta terça-feira, 16 de abril, o prefeito Marco Lage atacou a Câmara de Itabira. Isso já se tornou corriqueiro por parte do chefe do Executivo. Entretanto, dessa vez Marco usou um termo preconceituoso e capacitista contra os vereadores de oposição.
Quando defendeu o repasse de dinheiro público para o time de futebol, Marco disse: “O futebol hoje tem de fazer time para ganhar. Então, é outra história. A questão com a Câmara é esquizofrenia”.
Ao usar o termo “esquizofrenia” de forma pejorativa, Marco Antônio ajuda a perpetuar estereótipos prejudiciais. A esquizofrenia é uma condição de saúde mental séria e complexa, e usá-la de maneira depreciativa para atacar alguém não apenas desrespeita as pessoas que vivem com a doença, mas também contribui para o estigma em torno da saúde mental.
Atitudes como a do prefeito Marco Lage são frequentemente criticadas por especialistas. A campanha “Ouçam Nossas Vozes”, promovida pela Janssen, empresa farmacêutica da Johnson & Johnson, em parceria com o Programa de Esquizofrenia (PROESQ) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a Associação Mãos de Mães de Pessoas com Esquizofrenia (AMME), a Associação Crônicos do Dia a Dia (CDD) e a Associação Gaúcha de Familiares e Pacientes Esquizofrênicos (Agafape), lançou um dicionário anticapacitista sobre saúde mental. O material pode ser acessado gratuitamente no site da empresa.
Especialistas que fazem parte da campanha alertam para o perigo da linguagem capacitista: “A falta de conhecimento sobre a doença e o preconceito podem impactar diretamente na vida da pessoa que tem esquizofrenia e em sua família. O preconceito é um dos principais impeditivos para que o paciente busque tratamento”, ressalta o psiquiatra Rodrigo Bressan, professor da Unifesp.
O dicionário anticapacitista tem o objetivo justamente de derrubar estigmas. Para o tratamento da esquizofrenia, a pessoa deve buscar ajuda multiprofissional, com apoio de psiquiatra, psicólogo, além da rede de apoio. “Quando a esquizofrenia não está controlada adequadamente com as medicações, o paciente pode ter crises psicóticas, alteração de comportamento e eventualmente internações. A cada episódio psicótico existe uma progressão da doença e uma piora da resposta às medicações, além de uma redução do volume cerebral. Mas, quando tratada correta e continuamente, os sintomas estabilizam e o paciente pode ter uma vida autônoma, produtiva e com qualidade de vida”, afirma Bressan.
*Reportagem do Notícias Uai, com informações dos jornais “Diário de Itabira” e “Estadão”. Fotos (capa): Arquivo / Notícias Uai + Reprodução / Acom / CMI